CRÍTICA: Espetáculo de estreia de Américo Stella

por Daniel Paranhos

Coerência, relevância da mensagem, ritmo do espetáculo, qualidade do
conteúdo, competência e entrosamento dos participantes, envolvimento com o
contexto, harmonia entre as peças apresentadas e variedade para evitar a
monotonia, são aspectos capitais para se colocar no palco uma atração de
qualidade. Mesmo numa performance profissional, com muta frequência,
encontramos deficiências maiores ou menores em um ou mais desses requisitos.

A raridade completa e surpreendente é ver tudo isso resolvido magistralmente
numa apresentação de estreia! Com uma unidade indiscutível, canções,
depoimentos, poesias e alguma eventual intervenção instrumental se sucederam,
resultando num momento emocionante, compartilhado por todos os presentes.
Assim foi o desempenho de Americo Stella que se apresentou com e sua voz
intensa e aveludada, e o luxuoso(*) acompanhamento de Luan Cavalleri ao piano
e de Daniel Lorentino.


(*)luxuoso – jargão superlativo elogioso largamente usado pela apresentadora Leda Nagle


Havia tempos não me emocionava assim num espetáculo. Nem só pelas
qualidades enumeradas acima, mas pelo teor e densidade das mensagens. Isso
acontece quando o conteúdo e o artista estão de tal modo conectados que a
coisa toda flui como se quisesse sair por vontade própria.
É assim que funciona quando a coisa toda vem do coração, com sinceridade e
legitimidade. Uma maturidade que muitas vezes tarda a chegar até para artistas
consagrados. É preciso coragem para se colocar de corpo alma e o peito aberto,
como um ser humano diante de seus pares sem qualquer receio ou proteção.

Ponto especial para o maestro Damián, não só pela bela performance de “Inverno
Portenho” de Piazzola, mas pela refinada percepção e entrega à causa da grande
música ao propor ao aluno principiante de piano que focasse mais no canto que
no instrumento, e ainda concedeu o espaço da própria Escola de Música
Harmonia (espaço que este habituado a receber artistas de renome internacional
em apresentações super exclusivas).


E também para os instrumentistas que o acompanharam, que com sensibilidade
e competência se puseram a serviço daquele universo desencadeado mostrando
o quão importante saber que menos é mais.

Camboriú, 19 de agosto de 2024. Daniel Paranhos

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